O filósofo Byung-Chul Han publicou um livro intitulado Sociedade do Cansaço (2017), neste o autor afirma que "o começo do século XXI não é definido como bacteriológico nem viral, mas neuronal" (p. 7), ou seja, não são apenas as bactérias ou os vírus que estão adoecendo as pessoas, mas sim, as doenças neuronais que ele afirma como sendo "doenças neuronais como a depressão, transtorno de défcit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), Transtorno da personalidade limítrofe (TPL) ou a Síndrome de Burnout(SB)" (p. 7).
O que ele está nos dizendo é que as pessoas estão adoecendo (e morrendo) devido a questões de saúde mental e isso continuará a acontecer até o momento em que a saúde mental não for uma prioridade.
Vemos, todos os dias, pessoas fazendo dieta, academias lotadas, cirurgiões plásticos e bariátricos com uma agenda superlotada, roupas e chinelos de grife, perfumes dos mais caros e etc.. Mas e o cuidado em saúde mental? Quando as pessoas irão entender que sem saúde mental nada disso fará sentido por muito tempo?
O ponto é que como diria Bauman (2008) existimos em uma vida para o consumo. Sim, existimos. Porque vida não é para ser consumida, vida é para ser vivida.
Nessa perspectiva de comprar tudo, o sujeito tem trabalhado incessantemente até o esgotamento mental (SB) para suprir essa falta que é o não saber sobre si. Se eu não sei quem eu sou, eu sigo a manada. Eu faço o que todos fazem. Treino. Faço dieta. Compro o iphone mais novo. Viajo para onde todos estão viajando.
Ou seja, vivo a vida do outro e não a minha.
Eu sei que é legal e satisfatório fazer uma comprar e usufruir daquilo, mas quanto tempo essa satisfação irá durar? Acredito que o tempo que a minha influenciadora digital preferida postar um produto novo.
Tá, mas você precisa disso? Ou você nem sabe do que você precisa?
A sociedade do consumo atrelada ao discurso neoliberal de que você precisa "trabalhar enquanto eles dormem", é o compo perfeito para o que resolvi nomear de comorbidades do neoliberalismo.
Comorbidade nada mais é do que a manifestação de mais de uma doença ou condição em um mesmo paciente ao mesmo tempo, ou seja, ansiedade para bater e ultrapassar todas as metas e como consequência disso, o desenvolvimento da Síndrome de Burnout ou depressão ou TDAH ou tudo junto.
Entendo que todos nós precisamos trabalhar porque os boletos não param de chegar, mas será mesmo que o melhor caminho vai ser trabalhar até o adoecimento? Isso é uma coisa que só você pode me responder.
O que eu sei, devido a minha experiência na clínica, é que esse trabalhar incessantemente tem sido a anaquilação de si, ou seja, vivo para o trabalho e não sei mais quem eu sou, não sei mais o que gosto e nem sei mais o que me faz bem. A consequência desse não saber sobre si, é a angústia. Quantas vezes você já não se angustiou por se sentir insuficiente? Por se achar inútil e incompetente?
Por não saber quem se é e o que se faz, o sujeito adoecido e inautêntico (que não sabe quem se é), acredita em tudo que o outro diz, ou seja, se a minha chefe chega e diz "você é incompetente", esse sujeito irá acreditar, porque não tem a consciência (awareness) de que fez o que poderia e etc.
Fato é que a falta de contato com o que você sente e com quem você é, pode te tornar um sujeito neurótico e alienado. Alheio. O outro toma conta de quem você e você não consegue enxergar saída, sentido e possibilidades de viver novamente.
Por esse e tantos outros motivos eu te questiono, será que vale a pena sobreviver assim?
Maria Alicya Teixeira Alves Firmo
Psicóloga
CRP 11/21077