Esse texto é fruto da minha pesquisa de trabalho de conclusão de curso e foi publicado na revista IGT na Rede.
Vou citar um trecho dele aqui, quem sabe não te instiga a ler...
"Uma história que pode ser utilizada para explicar e possibilitar melhor compreensão do que seria a antropologia da neurose, é a obra O Pequeno Príncipe (2015), Quando O Piloto afirma, no começo da história que deixou de desenhar porque os adultos não entendiam o seu desenho e julgavam aquilo que ele desenhava, tem-se o bloqueio da criatividade daquela criança.
As pessoas grandes aconselharam-me a deixar de lado os desenhos de jiboias abertas ou fechadas e a dedicar-me de preferência à geografia, à história, à matemática, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis ano, uma promissora carreira de pintor. Fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. (Saint-Exupéry, 2018, s/p)
Consequentemente, O Piloto tem parte de sua criatividade interrompida, já que não consegue mais desenhar devido ao que aqueles adultos falaram a respeito do seu desenho. Assim, essa criança cresce com sua criatividade, liberdade e espontaneidade cerceada. A partir disso, é que podem se fundar adultos frustrados, que irão sobreviver, porque poderão viver suas vidas e fazerem suas escolhas, com base nos padrões impostos socialmente. E, até entenderem que as escolhas que fazem por eles não são suas, e sim dos outros, ter-se-ão vidas infelizes, adultos estressados, mal-humorados, cansados, vivendo de excessos para suprir uma falta que, muitas vezes, podem ter início na infância, ou não necessariamente na infância, mas uma falta que existe.
O Piloto leva consigo o seu primeiro desenho com a esperança de que algum adulto o compreenda, mas quantos adultos não levam consigo sonhos de criança, na esperança de que alguém os valide? Eis a importância do processo terapêutico, que não deixa de ser um espaço de validação dos sonhos dessas crianças, mas pode ser, principalmente, um espaço para mostrar que independente de alguém validar ou não aquele sonho, o sujeito tem a liberdade para sonhar.
Com base nisso, descrever a antropologia da neurose “é mostrar o que se ‘perdeu’ da natureza humana” (Perls, Hefferline e Goodman, 1997, p. 119), por isso pensar a antropologia da neurose tem como objetivo evidenciar o que se “perdeu” da natureza humana, já que, o neurótico é um indivíduo interrompido, como o Piloto."